cultura

Obrigado, menino. Que sigamos contando histórias!

Esta foto que vocês estão vendo abaixo é a foto do cenário do espetáculo que dirigi e escrevi. Terra à vista: uma aventura pirata! Ele ainda segue em turnê neste ano. Mais uma dúzia de apresentações e a turnê 2018 se encerra. Já são 3 anos na estrada e mais de 120 apresentações.  

Foto: Leonardo Roat

Como vocês devem imaginar, já nos encontramos com muitas crianças (algumas milhares). Afinal, teatro é encontro. Porém, alguns instantes nesses encontros são potência pura. E essa semana isso aconteceu.

Ao final do espetáculo, os atores que fazem os piratas sempre vão despedir-se das crianças na saída do teatro. Eu fico no palco (apesar de fazer um personagem, fico para colocar trilha sonora para as crianças em sua saída - um modo de estender o momento que aconteceu, e seguirá no abraço que virá dos atores na porta).

Sempre observo com orgulho danado esse nosso trabalho em cada sorriso, abanar ou brincadeira que me é dirigido neste momento (elas, mesmo na correria da saída ou nas filas com professores, se viram para me dar um tchau). Uma retribuição genuína de carinho desse nosso encontro.

Sempre me emociono. Mas na apresentação dessa semana foi diferente. Um aluno, de um grupo da APAE, que acompanhou o espetáculo mais ao fundo da plateia, depois de abraçar os piratas, pediu ao professor que o acompanhava para que retornassem ao cenário.

Vi essa cena à distância. Ele apontando o dedo e falando ao ouvido do professor. E aos poucos, eles retornaram. Vieram na direção do palco. O professor me olhou, como quem pede licença para se aproximar, eu prontamente estendi a mão em sinal de cortesia como quem diz: "por favor, sintam-se à vontade. Vocês sabem que teatro só existe com vocês".

E eles subiram os degraus que os aproximavam de tudo que compõe o cenário. A cada passo, o olhar de admiração do menino aumentava. Pararam bem na frente do todo. Bem ao centro do palco.

Ele contemplava cada detalhe. Apontava com empolgação. Perguntava para o professor curiosidades, que prontamente o respondia. Ficaram ali uns 5 minutos, suponho eu.

A cada descoberta do menino, eu redescobria e descobria coisas novas de nossa peça.

"A galinha louca. A bandeira pirata torta, mas que não cai. A vela que não balança. O barco que é grande, mas fica pequeno. Porque ele se monta e se desmonta".

Enfim, fui revendo aquele mundo. Revendo ensaios. Viagens e muitas apresentações. Revi tantas cenas e situações nesses anos que, na verdade, terminei por me rever.

Sim, me revi aos sete anos, quando eu também, mais ou menos do tamanho do menino defronte ao palco, descobria o teatro, a magia e como histórias mudam vidas.

Meus olhos marejados por toda a cena, ainda viram o menino pegar a mão do professor e partir. E ele seguiu olhando mais umas duas vezes pra trás, como quem não acreditava que acabara de conhecer piratas e seu navio.

Eu, eu fiquei ali, parado no palco, mas suspenso no tempo, olhando umas duas vezes pra dentro de mim. Como quem não acreditava no que tinha visto e sentido.

Percebendo os universos que me compõem, que nos compõem, e nos conectam.

Obrigado, menino.

Gracias por descobrir um mundo novo tão linda e atentamente. Por permitir me redescobrir novamente em cada detalhe que seu dedo apontou. O seu acreditar, me faz acreditar e imaginar.

Que sigamos imaginando juntos. E que sigamos contando histórias, pois é disso que somos feitos.

Até o próximo encontro.

Fotos: Léo Lima

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